quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O porquê desse blog.


Há mais de uma década acompanho a cultura musical de Jaraguá do Sul. Conheço boa parte do pessoal que se dedica a esta nobre arte, seja teatro, dança, música, artes plásticas e literatura.

Volta e meia quando me encontrava com algum desses artistas na rua começávamos com um Oi! Indo para o: O que você está inventando? E a partir daí, em vários casos, ficávamos dezenas de minutos, até horas, dividindo histórias, diálogos e episódios curiosos dos bastidores da cultura local.

Um dia pensei: São tantas informações que se cada vez que eu começar a falar com alguém na rua eu simplesmente não vivo mais, só que esse tipo de assunto acabava vindo à tona.

Era algo inevitável, principalmente depois que todas as bandas marciais das escolas particulares da cidade acabaram, o novo prédio da SCAR ficou pronto e o fundo municipal de cultura foi criado.

Se fosse falar só das histórias da banda do Colégio Marista São Luís seria necessário criar um blog a parte. Provavelmente eu seria ameaçado e depois processado, já que apenas comentando com alguns colegas da época fui ameaçado de levar uma surra caso continuasse “conversando” algo que hoje acabaria em prisão em flagrante e com o detento ficando algumas semanas sem dormir e sem sentar direito.

A única ressalva que faço dessa época foi a capacidade de pseudo-profissionais de se aproveitar de pessoas ingênuas, numa época que carteira da Ordem dos Músicos do Brasil era sinônimo de profissionalismo.

Hoje é sinônimo de piada.

Com a disponibilidade de plataformas virtuais, redes sociais, e-mail, e outras facilidades da Internet tornou-se fácil criar um ambiente de leitura virtual sem custo financeiro.

O ponta pé inicial desse blog aconteceu no final de 2011. Vi umas bobagens escritas numa rede social e fiquei indignado. Fiz uma rápida investigação, vi que era mentira e encaminhei para o Sérgio Peron divulgar no seu blog.


Claro que li e ouvi muitas bobagens. Gente que apenas assinava documentos, não participava de quase nada se achou no direito de ligar para a casa dos meus pais questionando o meu trabalho, que claro, antes da denúncia era digno de louvor.

A típica cultura do “estamos salvando o mundo”.

Mas o que me motivou a criar esse blog foi começar a ler as atas do Conselho Municipal de Cultura, a legislação cultural específica e notícias de projetos culturais da região.

O que mais me deixou irado foi o que aconteceu com um projeto meu aprovado no final de 2011. Segue o trecho da ata da reunião do Conselho Municipal de Cultura de 23 de agosto de 2011.




Achei estranho. O conselheiro tem o poder de dizer quanto custa um projeto? Ou quanto um artista deve receber? Será que eles leram o projeto?

Olhem o que diz a Resolução 01 de março de 2011, antes do lançamento do edital em questão:




Imaginem 20 conselheiros e antes deles pelo menos 3 analistas técnico-culturais chegarem num consenso sobre valores de serviços culturais.

Li toda a legislação pertinente várias vezes. Leitura chata. Consultei meu irmão advogado, ele viu que tinha razão. Não hesitei, encaminhei um ofício para o conselho pedindo o motivo da redução do valor do meu projeto.

Responderam apenas que manteriam a decisão, sem explicar o motivo.

Fui a uma reunião do CMC, a do dia 08 de dezembro de 2011, a última daquele ano. Além de descobrir que tem artista com prestação de contas atrasada desde o primeiro edital de 2009, recebi em primeiríssima mão a notícia que o Ginásio Arthur Müller seria derrubado para a construção de um novo terminal urbano...

Na hora eu ri, e hoje continuo rindo.

Mandei e-mail para todos os conselheiros, mostrando a lei, e novamente pedindo o porquê da redução do valor do projeto.

Não recebi resposta alguma.

No início do ano seguinte (2012) decidi desistir do projeto, que teve seu valor reduzido praticamente em 1/3. Se a comissão de análise técnica do Fundo não deu nenhum parecer pedindo a redução do valor, porque os conselheiros pediram? Pediram não, determinaram.

Aquela história do eu quero o teu serviço, mas eu pago o quanto eu quero.

Comentei esse caso com alguns amigos e colegas e descobri que isso já aconteceu em editais anteriores. Projeto teve o seu valor reduzido e o proponente aceitou realizar.

Claro que quem aceitou isso não leu a lei. Redução de valor por causa de tarifas bancárias, mensalidades de associação, e itens previstos em lei são aceitáveis, agora reduzir cachê de artista porque achou caro, pela lei isso não pode.

O correto era nem ter aprovado o projeto. Poderiam dizer que era superfaturado, ou simplesmente não achar a ideia interessante e colocar na portaria: Parecer técnico desfavorável!

Seria estranho eu apresentar um projeto de mil reais e depois aceitar fazê-lo por 600 ou 700 reais. Aí começa aquela discussão filosófica a respeito da ética e da moral.

Enfim, deixei de fazer um projeto e comecei esse blog. Aprendi que é importante conhecer a legislação cultural para não ser enrolado.


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